Ele ainda
é um jovem, inexperiente. Enfrenta algumas dificuldades naturais da tenra
idade, mas procura aprender com os erros para evoluir. Retomado com caráter
obrigatório para o exercício da profissão em 2011, o exame de suficiência do
Conselho Federal de Contabilidade (CFC) segue rumo à maturidade. Após três
edições com resultados oscilantes, o objetivo é consolidar um patamar de
aprovação maior nos próximos anos. E o passo seguinte neste processo será dado
em 23 de setembro, quando a avaliação ocorre pela quarta vez consecutiva.
“Acreditamos
que, a partir do sexto exame, vamos ter resultados na faixa de 65% a 70% de
aprovação. A prova é um importante instrumento de proteção para a sociedade,
que diz se o nosso profissional está apto a exercer a profissão”, acredita o
presidente do CFC, Juarez Domingues. Enquanto esse índice elevado de
efetividade não chega, a situação de momento preocupa o dirigente. Nem metade
dos bacharéis inscritos nas provas já realizadas conseguiu aprovação.
O cenário,
na avaliação do presidente do CFC, demonstra a necessidade de melhoria no
ensino da contabilidade. Apenas desta forma será possível alcançar resultados
positivos na prova de forma permanente, na avaliação de Domingues. Neste sentido,
ele enfatiza que há carência de Investimentos nas estruturas oferecidas
pelas universidades, como bibliotecas e laboratórios, e na capacitação dos
docentes.
A escassa
quantidade de mestres e doutores nas faculdades brasileiras é um dos principais
pontos a ser tratado. “Mais de 90% das universidades brasileiras não têm
mestres e doutores. A maioria das instituições não quer investir na formação
dos seus professores. Mudar isso é determinante para haver melhoria no processo
de ensino”, defende Domingues. Para estimular o aperfeiçoamento desses
profissionais, o Conselho Federal fechou parcerias com as universidades
portuguesas de Aveiro e Minho. Os acordos devem entrar em vigor em 2013. A
intenção é, em dois anos, disponibilizar 110 vagas para professores que desejam
se tornar mestres ou doutores.
Entretanto,
a responsabilidade pelo desempenho abaixo da média constatado até então não é
somente dos cursos. “O ensino não é uma via de uma mão só. É necessário que o
aluno queira estudar, procure se aprimorar e busque novos conhecimentos.
Acredito que estava faltando um pouco dessa atitude nos primeiros exames, mas
agora isso está começando a mudar”, analisa Clóvis Kronbauer, professor de
Ciências Contábeis na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos).
Quem
aposta na preparação para a prova acaba colhendo os frutos. É o caso da
contadora Simone Leite, formada na Pontifícia Universidade Católica do Rio
Grande do Sul (Pucrs) no início de 2011. Ela conseguiu a aprovação logo no
primeiro teste conduzido pelo CFC. “Em dois sábados, participei de um grupo de
estudos que os professores da faculdade organizaram para tirar dúvidas. Isso me
ajudou bastante”, diz. Além disso, Simone procurou os exames anteriores, quando
o cunho ainda não era obrigatório, para revisar os conteúdos abordados.
Universidades
gaúchas procuram aperfeiçoar o ensino contábil
As médias
oscilantes em todo território nacional, nas provas realizadas até o momento,
acabaram tendo reflexos na rotina da sala de aula. Até mesmo universidades com bons
índices de aprovação têm procurado aperfeiçoar o ensino da contabilidade a fim
de deixar seus estudantes mais bem preparados para o teste. No Rio Grande
do Sul a situação não é diferente. Algumas das principais faculdades do Estado
fizeram mudanças de distintos cunhos, da metodologia à bibliografia.
A
coordenadora do curso de Ciências Contábeis do Centro Universitário Metodista
do IPA, Neusa Monser, lembra que a retomada da prova coincidiu com um momento
de transição para a contabilidade brasileira, envolvendo diversas alterações
nas leis e processos. “Apenas nos últimos dois anos começaram a sair livros com
uma orientação mais consolidada. Esse GAP entre as modificações na
profissão e a Produção de livros pode ter impactado nos resultados do
exame”, acredita.
Após um
desempenho abaixo do esperado na primeira avaliação, o IPA conseguiu 73% de
aprovação na prova seguinte. Resultado que passou por mudanças na abordagem dos
professores em relação a alguns temas e nos livros utilizados como material de
apoio.
As grades
curriculares dos cursos superiores de todo o País já vinham sendo adaptadas à
nova realidade contábil vigente desde a adoção das normas internacionais, em
2009. Mesmo assim, o exame de suficiência se tornou um elemento para balizar
decisões e reforçar alguns conteúdos. “Os exames realizados até agora pegaram
muitos alunos que entraram na faculdade com uma normativa contábil e concluíram
o curso com outra. Por isso, reforçamos algumas disciplinas e organizamos
palestras e simpósios”, constata Clóvis Kronbauer, professor da Universidade do
Vale do Rio dos Sinos (Unisinos). Com isso, a instituição conseguiu uma taxa de
70% de aprovação no segundo teste realizado.
Com uma
graduação voltada à controladoria e finanças, a Pontifícia Universidade Católica
do Rio Grande do Sul (Pucrs) também utilizou a exigência para fazer reflexões.
“Estamos mapeando as provas e, de certa forma, inserindo nas disciplinas
perguntas com a mesma estrutura das cobradas no exame”, salienta o coordenador
da faculdade de Ciências Contábeis, Saulo Armos. Além disso, Armos destaca que
a avaliação foi levada em consideração na hora de escrever o novo projeto
pedagógico do curso, que será implementado em 2013.
Mercado passa a
contar com cursos preparatórios
O exame de
suficiência realizado pelo Conselho Federal de Contabilidade (CFC) abriu espaço
para um novo mercado: o de cursos preparatórios. O desenvolvimento desse nicho,
porém, ainda é lento. Pelo fato de a retomada da prova ser recente, poucas
instituições ofertam capacitações revisando os conteúdos exigidos na avaliação.
A tendência, no entanto, é que esse tipo de serviço na área contábil ganhe cada
vez mais força.
No
momento, achar um cursinho em Porto Alegre é tarefa de gincana. O Instituto
Insero é um raro caso de espaço que possui esse item no portfólio. A partir da
segunda edição do exame, no segundo semestre de 2011, a empresa passou a
disponibilizar uma oficina preparatória com duração de dois meses e meio. “Eu e
o meu sócio somos da área, vimos que não tinha nada parecido sendo ofertado e
então idealizamos o curso. Por sermos contadores e docentes, sabemos o que
esses alunos precisam”, acredita Wilson Danta, professor e presidente da
instituição.
A cada
nova prova realizada, uma turma é aberta pela Insero. A quantidade de
alunos, porém, tem sido abaixo do esperado. Das 30 vagas oferecidas a cada
edição, geralmente 15 delas são preenchidas. “Os estudantes ainda não acordaram
para a prova, estão achando que é fácil”, opina Danta. O curso possui 17
disciplinas, abordando temas como auditoria, controladoria, estatística,
perícia e normas de contabilidade. Ao todo, são 96 horas/aula para bacharéis e
56 horas/aula para técnicos. Segundo Danta, no exame passado, o grau de
aprovação dos alunos superou 70%. Em breve, o Sindicato dos Contabilistas de
Porto Alegre (SCPA) também pretende ingressar nessa área, a partir de
2013.
Fonte: Jornal do Comércio – RS (http://www.classecontabil.com.br/noticias/ver/17190)
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